Jujubáh diz (23:31):
eu qro um lula de pelúcia
Rafael diz (23:31):
existe? Oo
Jujubáh diz (23:31):
ahaam
o mainardi tem (colunista da veja.. tu deve ter ouvido flah dele jah)
se pah se tu procurah axa a foto q ele publicou no livro.. eh o filho dele cm o lula de pelúcia na mão
eh mto perfeito
Rafael diz (23:32):
ouvi sim
Jujubáh diz (23:32):
e esse artigo dle eh MTO BOM
ele eh boçal e folgado
mas adoro ele (mainardi)
Rafael diz (23:32):
tu ia dormir com ele? :O
Jujubáh diz (23:32):
naaum.. torturar *-*
Jujubáh diz (23:38):
enfim
agr vo lah nanar ;D
lê o artigo
parece grande, mas vale a pena
o cara eh um gênio
Rafael diz (23:38):
leio sim, podeixar :)
Jujubáh diz (23:38):
boa noooite rafa
ateh amanhã :**
Rafael diz (23:38):
boa noite, côca... :**
té manhã
Muito bom... Vale a pena ler mesmo.
Ganhei de presente um Lula de pelúcia. É uma obra do artista plástico Raul Mourão. O Lula de pelúcia mede dois palmos de altura. Fica sentadinho, de pernas abertas. Tem o rosto amarelado, como o do sertanejo que passou tempo demais longe do sol. O pé inchado. O olhar perdido. O cabelo ruim. O terno mal cortado, de material sintético.
O Lula de pelúcia me pegou de jeito. Desde a última quarta-feira, não consigo largá-lo. Ele desencadeou em mim uma série de pensamentos alarmados. Quem me acompanha sabe que, nesses anos todos, Lula foi meu ursinho Pooh, meu amigo imaginário, meu companheiro de jogos. Eu dormi com Lula, acordei com Lula, dei banho em Lula. Quando ganhei o Lula de pelúcia, fui acometido por um forte sentimento de nostalgia. Dei-me conta de que, nos próximos meses, assim que o Lula verdadeiro cair, assim que ele morrer politicamente, assim que ele for enterrado, essa alegre e despreocupada fase da minha vida também chegará ao fim. O meu Lula de pelúcia ficará guardado para sempre no fundo do armário, todo encardido, cego do olho esquerdo, com o bracinho pendente, descosturado.
Lula foi o ponto alto da minha carreira jornalística. Com seu desaparecimento, decairei miseravelmente. De uma hora para outra, não terei mais assunto. O único tema que de fato me interessa são meus filhos. Ninguém aceitará me pagar um salário para escrever sobre eles todas as semanas. O maior que entra numa relojoaria para pedir jujuba. O menor que está ficando careca. O maior que decorou a ordem de todos os anúncios das páginas amarelas. O menor que caiu da cama e está com um galo na testa. O maior que roubou uma sandália numa loja de roupas, a fim de acionar o alarme antifurto. O menor que rasgou meu talão de notas fiscais. Os leitores reclamarão da constrangedora vacuidade da minha coluna. Claro que estarão certos.
Num dado momento do ano passado, quando parecia que Lula conseguiria se perpetuar no poder, pensei aliviado que nunca mais teria de ler um livro ou assistir a um filme. Imaginei que poderia passar o resto de minha existência ocupando-me de matérias mais entusiasmantes, como o rombo no Funcef ou o desfalque no Dnit. O fim prematuro de Lula vai acabar com tudo isso. Com muito desgosto, serei obrigado a voltar a ler e a ir ao cinema. Não será o suficiente. Por mais que me empenhe, não saberei o que falar sobre livros e filmes. Numa medida desesperada, tentarei me mudar para Nova York. O aluguel de um apartamento central será caro demais. O fisioterapeuta custará 100 dólares por hora. O dinheiro acabará rapidamente. Fugirei para Roma. Também não dará certo. Não acontece nada em Roma. Ninguém quer saber de Roma. Eu não quero saber de Roma. Em menos de dois anos, perderei o emprego na revista e na televisão. Meus filhos me abandonarão. Morrerei com o Lula de pelúcia no colo.
"O fim de Lula. E o meu."
Um artigo de Diogo Mainardi
Sábado, 12 de novembro de 2005.
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