quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Senhores do Crime



Ontem fui ver Senhores do Crime. Pensei que nem ia conseguir ver, porque atrás de mim estava uma mulher beirando os 60 anos com as patas nas poltronas da frente e fazendo um barulho esquisito, que eu juro por deus, eu não faço a menor idéia de como ela fez ou por que orifício estava saindo. Não demorou muito para passar um casal perto de mim [pouco ates de começarem os trailers] que parecia procurar alguém. A velha deu um grito e eles acenaram pra ela. Era a família

A mulher, que era filha dela, não calava a porcaria da boca resmungoando e fazendo aqueles comentários inúteis e ridículos que ninguém quer ouvir mas ela faz questão de falar. Fora o maridinho dela que resolveu atender o celular nos créditos iniciais...

O filme começou e eu já estava quase indo lá pra frente para não ter que aturar a falta de educação daquele bando que deve ter fugido de algum buraco pra infernizar a vida dos outros quando felizmente [hahaha \o/] a filha começou a passar mal! Ela estava enjoada, e depois das primeiras cenas de Senhores do Crime ela piorou. Eu não sou um cara que não liga para os outros, mas naquele momento, com aquele tipo de gente atrás da minha poltrona, eu só estava preocupado se aquela coisa inconveniente ia vomitar na minha nuca. Mas a troglodita-mãe resolveu leva-la ao banheiro e ficou lá tempo suficiente para eu achar que a filha tinha morrido de tanto vomitar [minha cara de preocupação -> :-)].

Depois disso a mãe do bando só apareceu na entrada da sala e GRITOU [pra não dizer “mugiu”] o nome do genro [que eu não entendi, pois estava em dialeto rupestre], que reconhecendo o seu chamado, seguiu a matriarca de volta à gruta de onde nunca deveriam ter saído.

Isso tudo levou uns 15 ou 20 minutos, mas pareceu uma eternidade. Felizmente depois disso o filme seguiu em paz... (y)


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Filme de David Cronenberg
deu a Viggo Mortensen
merecida indicação ao Oscar


Com exceção de uma extraordinária e já famosa cena de luta em uma sauna, Senhores do Crime [Eastern Promises], de David Cronenberg, evita grandes catarses. O filme está no espectro oposto dos gozos de sangue de Crash - Estranhos Prazeres e Marcas da Violência: a cena de catarse se intensifica enquanto o resto do filme repousa numa espécie de suspensão etérea.

Ainda que seja rico em significados, Senhores do Crime é um filme algo fugaz.

Fugaz porque, antes de mais nada, trata de uma história escusa que não diz respeito a ninguém. Enfermeira em um hospital inglês, Anna [Naomi Watts] acolhe o bebê de uma misteriosa jovem russa que morreu no parto. Junto com o bebê, um diário, que contém segredos da máfia russa em Londres. Anna procura os russos para dar um destino seguro ao bebê, mas periga perder a vida porque se intrometeu no assunto dos outros.



O capanga russo encarregado de cuidar de Anna, Nikolai [Viggo Mortensen], é a personificação do fugaz. Fala mansamente sempre olhando para os lados, age e move-se de forma econômica, responde a ordens com uma submissão lenta. A trama de Senhores do Crime se põe em movimento, principalmente, porque a aflita Anna e o sólido Nikolai são completos opostos. E os opostos... Você sabe.



Mas não se preocupe que o roteiro do filme, escrito por Steve Knight [Coisas belas e sujas], está longe de ser uma melosidade - ao contrário do que o trabalho prévio de Knight poderia sugerir. Cronenberg se apossa da premissa para, mais uma vez, tratar dos temas que o assolam, como a questão do corpo e da identidade, ou, mais exatamente, da identidade como uma questão de corpo.



Tatuagens, atos sexuais, nus e o balé rijo de Mortensen - indicado muito justamente ao Oscar de melhor ator - são as expressões dessa identidade contida no corpo. Aos poucos em Senhores do Crime vamos descobrindo que a trama não se concentra em Anna, e sim em Nikolai, especificamente no trajeto que levará o russo a ter seus méritos reconhecidos dentro da organização para que trabalha.



Se o longa parece fugaz, talvez seja pela "insistência" do espectador em acompanhar a subtrama de Anna a que fomos apresentados no começo, subtrama acima de tudo efêmera perto do que Cronenberg reserva a Nikolai. Digamos que a efemeridade não é um defeito de Senhores do Crime, mas uma contra-indicação.


Trailer


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